Lauro
Brito de Almeida, Dr. EAC|FEA|USP(1)
Ler, para mim é
um ato de prazer e também dever de ofício. Confesso: algumas notícias me deixam
perplexo. O estudo “Medindo a sociedade da informação”, realizado pela União
Internacional das Telecomunicações [UIT] [Folha
de São Paulo, caderno mercado, B1, 16/10/2012], relativo ao
ano de 2011 revela alguns achados interessantes sobre as empresas de telefonia
e hábitos de consumo dos brasileiros. Chama a atenção, que entre os países
pesquisados, os consumidores brasileiros, usuários de telefone celular ocupam a
décima posição entre aqueles que mais comprometem a renda com esse tipo de
despesa.
Os
brasileiros drenam 7,3% de sua renda em despesas com telefonia celular. Para se
ter ideia da importância desse indicador, em 2010, conforme estudo da UIT, as
receitas das empresas brasileiras neste segmento econômico, em conjunto, foram
na ordem de U$ 78 bi, ficando abaixo dos EUA, Japão e China. Estima-se em mais
de 257 milhões de linhas de celular, além de mais de 80 milhões de acessos a
internet, no caso, fixo e móvel.
A
publicação Valor Setorial Higiene, Perfumes e Cosméticos [novembro de 2011],
evidencia um setor bilionário, com investimentos na ordem de R$ 9,3 bi e faturamento
de U$ 37,4 bi, colocando o Brasil, em 2010, como o quarto mercado do mundo, em
termos de receitas.
O
segmento de higiene, perfumes e cosméticos, em 2010, gerou 2.700 mil
oportunidades de trabalho em vendas diretas e 1.480 mil em salões de beleza.
Quanto aos salões, os empreendedores individuais atuando no segmento de beleza
e estética, estão entre os que mais formalizaram seus negócios. É sabido que as
Pequenas e Médias Empresas [PME] dominam o cenário brasileiro em quantidade de
empreendimentos, e, coletivamente na geração de empregos. No estado de São
Paulo, dados coletados em fontes diversas - SEBRAE – SP,MET/Rais – relativo ao
ano de 2010, mostram que os negócios paulistanos nesse setor, são
significativos. Por exemplo, no negócio “varejo de perfumarias e cosméticos”
foram contabilizadas 15.273 PME e no de “Cabeleireiros e outras atividades de beleza”
10.767 PME.
No
entanto, apesar de os setores comentados apresentarem números invejáveis,
gerarem empregos, novos negócios, serem indutores de investimentos, de
tecnologias e inovação, há outros aspectos em nosso país, no mínimo com
desempenho insatisfatório.
É
o caso do saneamento. Por um lado, oportunidades de investimentos bilionários,
ao que parece, andando a passos lentos em função de queixas em relação ao marco
regulatório. Parece estar havendo uma tensão entre regulador e regulado, em que o segundo tenta capturar o primeiro. A edição Valor Setorial Construção Civil
[setembro 2012], traz alguns dados interessantes - e alarmantes - sobre saneamento em nosso país. A publicação evidencia dados sobre as ineficiências nesse segmento - um componente vital na qualidade de vida do brasileiro – com
reflexos na educação, produtividade, cidadania, entre outros.
Os
dados da publicação evidenciam o atendimento de 81,1% da população brasileira – em áreas
urbanas e rurais – pelos serviços de água potável. A lamentar, o
desperdício nessa atividade, pois, utilizando a métrica faturamento 35,9% é a
perda de água no ano de 2010. Com referência a coleta de esgoto, somente 46,2%
da população brasileira é beneficiada por esse serviço. Na outra ponta, apenas
37,9% do esgoto gerado recebe algum tipo de tratamento.
Há,
no segmento de saneamento, um enorme mercado tanto para aqueles ainda não
atendidos, como pelas melhorias tecnológicas, eliminação de desperdícios e
perdas de água, como na coleta e beneficiamento de esgoto.
Em
2010, as receitas consolidadas das empresas de saneamento bateram na casa dos R$
70,5 bilhões. No âmbito Programa de Aceleramento do Crescimento 2 [PAC 2], com
recursos oriundos do Tesouro Nacional, o Ministério das Cidades recebeu no ano
de 2010, nada mais, nada menos que R$ 41,1 bilhões. Em termos de futuro, o Plano Nacional de Saneamento
Ambiental [Plansab] contempla em seu planejamento R$
420 bi. Desse montante, nada desprezível, R$ 157 bi são para esgotamento
sanitário.
Particularmente,
não vejo motivos para comemorar a 3ª. posição no mercado mundial de higiene,
perfumes e cosméticos e a 10ª. posição entre os países pesquisados pela UIT com
elevado grau de comprometimento da renda pessoal com telefonia. Gostaria de
estar lendo estatísticas, relatórios e estudos mostrando nosso país ocupando posições de destaque em educação, saúde, saneamento
básico e inovação, por exemplo.
Há
enormes desafios, e assumindo o tão alardeado esgotamento e incapacidade de o
estado prover os serviços básicos a população – no caso, saneamento, meios
alternativos de atender as demandas são mais que necessários. Pelo visto, a
participação de capital privado, além de necessária é bem vinda. Há o marco
regulatório, que por um lado, o seu papel é assegurar que o consumidor não seja
espoliado, e igualmente condições de operações que garantam o retorno dos
investimentos. No entanto, a julgar pelas reclamações, os investidores não
querem entender o tipo de negócio e suas características diferenciadoras de
outros, cujos retornos são mais rápidos e a taxas mais elevadas.
Estamos
vivendo novos tempos, com taxa SELIC de 7,25% e inflação anual projetada em
torno de 5%. Nesse cenário, a taxa real projetada será abaixo de 2%, apesar de
alta em termos mundiais. Portanto, é nesse cenário que os novos investimentos
devem ser pensados.
(1) Lauro Brito de
Almeida, Doutor em Controladoria e Contabilidade pela FEA/USP,
Pós-Doutorando em Administração pelo PPAD PUC PR e Professor do PPG Mestrado em
Contabilidade da UFPR. Interesses de pesquisas em Análise Gerencial de Custos,
Economia de Empresas e Educação, Ensino e Pesquisa. Experiência e atuação
profissional em Análise Gerencial de Custos, Orçamento Empresarial, Elaboração
de Plano de Negócios para Pequenas e Médias Empresas, Analise Econômica e
Financeira e Elaboração de Estudos e Pareceres. Contato: gbrito@uol.com.br
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