Luiz
Panhoca(1)
Este é o primeiro post de uma
série que discute as relações entre a contabilidade e o ambiente. Alguns a
classificam de Contabilidade Ambiental.
Lemos com frequência noticias alarmantes
de utilização exacerbada de materiais ou de práticas que esgotam os recursos da
terra para gerar produtos relacionados com a moda, com tendências de consumo ou
mesmo produtos essenciais ao nosso modo de vida.
As atividades humanas, incluindo a agricultura
podem reduzir a capacidade dos ecossistemas de beneficiar as pessoas e,
paradoxalmente, contribuir para sua degradação (Webb 1996;. Matson et
al, 1997). Se você está lendo artigos de ambientalistas como Kare Fog, G.
Hardin, do senhor e senhora Ehrlich, do WWF [Word Wild Fundation] ou do Green Peace, a catástrofe está
institucionalizada.
Por outro lado ambientalistas como
Björn Lomborg mostram o lado oposto da moeda e a tranquilidade estará
restaurada. Na verdade isso rende e muito para muita gente. A grande maioria
puxa a brasa para sua (deles) sardinha e ficamos perdidos em meio a uma
enxurrada de informação.
Os custos associados a estratégias
de prevenção, reabilitação e restauração devem influenciar as decisões de
utilização dos recursos da terra, ar e mar. Ações de gestão, incluindo prevenção,
restauração e reabilitação são muitas vezes necessárias para se recuperar um
estado produtivo, conscientizar a população e mudar o foco de um determinado
tipo de produção.
A primeira questão que abordaremos é: o que significa passivo ambiental? Esta pergunta tem diversas
respostas. Pode-se dizer com algum grau de certeza que passivo ambiental é o
valor da obrigação devida à preservação, proteção e reparação ambiental de uma
determinada entidade. Esse valor é apresentado no Balanço. Mas podemos ter um
balanço patrimonial que apresente resultados elevados, e ao mesmo tempo o
balanço social que demonstra posturas e ações negativas por parte da empresa.
Por que?
A Contabilidade é uma ciência
social. Como tal, deve representar e apresentar o resultado das operações de
uma entidade para a sociedade. Na verdade a pergunta, remete a Padrão, Normas e
Procedimentos. Se seguirmos as normas restringimos a
discussão da filosofia da ação para a conformidade e normatização.
A elaboração e publicação das peças
contábeis são em conformidade com um conjunto de normas. Os Princípios e Normas
de Contabilidade no Brasil são regulamentados pela Comissão de Valores
Mobiliários [CMV], pela Legislação Societária e Conselho Federal de Contabilidade
[CFC]. No entanto, a prática da contabilidade para usuários externos, também
sobre influências de órgãos como Banco Central do Brasil, Receita Federal e dos
editores dos CPC´s. As Demonstrações Contábeis [DC] são elaboradas,
posteriormente auditados por firmas independentes (geralmente globalizadas) que
possuem profissionais altamente qualificados, portanto peças – em princípio -
tecnicamente perfeitas.
O “Balanço Ambiental” reflete a
postura da empresa em relação aos recursos naturais, compreendendo os gastos
(com preservação, proteção, recuperação, investimentos em equipamentos e
tecnologias), voltados à área ambiental e os passivos ambientais. Os
indicadores ambientais, encontrados na maioria dos Balanços Sociais, se prestam
a descrição dos projetos ambientais.
Quando os resultados obtidos com os
projetos são favoráveis, são prontamente evidenciados e por vezes – convenientemente
- esquecidos se desfavoráveis. Nos relatórios quase nada é informado a respeito
dos “passivos ambientais”. As origens, causas, locais, tipo de dano, extensão,
meio ambiente e social afetados, condições finais geomorfológicas, riscos
decorrentes, não se sabe. Falta transparência dos informantes e conscientização
da sociedade na exigência de seus direitos a informação.
Por que? Os Relatórios de
Administração, que seriam peças contábeis complementares as demonstrações
contábeis, em alguns casos são mais peças de propaganda que um informativo das
ações e atividades realizadas. Se a informação que a sociedade quer não aparece
nas demonstrações, então existe uma não conformidade, a administração não está
sendo transparente, a contabilização não está propiciando a informação que se
busca.
Há poucos dias
lemos noticias e reportagens [clique aqui] sobre a penalização imposta a SANEPAR por poluir o meio
ambiente. É uma discussão interessante. A Missão da SANEPAR divulgada pela
empresa é: “Prestar serviços de saneamento ambiental de forma sustentável,
contribuindo para a melhoria da qualidade de vida”. Sua Visão é: “Ser uma
empresa de excelência, comprometida com a universalização do saneamento
ambiental”.
Pergunta-se: As
ações refletem a filosofia? O que está se fazendo em termos ambientais? A
própria SANEPAR diz que “[...] mais que simplesmente cumprir a legislação
ambiental, a SANEPAR atua continuamente em seu ramo de atividades em perfeita
sintonia com o conceito de desenvolvimento sustentável, ou seja, racionalizar
ao máximo o uso dos insumos naturais e reduzir ao mínimo os impactos ambientais”.
Seguindo essa
filosofia, nota-se que a Companhia possui um Planejamento Estratégico
Ambiental, que tem por objetivo identificar os principais impactos decorrentes
de sua atividade, permitindo dessa forma, estabelecer metas e ações e
posteriormente transformados em programas e projetos.” (ITR - Informações
Trimestrais - 30/06/2012 - CIA. DE SANEAMENTO DO PARANÁ – SANEPAR, Versão 1,
p.14). Aqui o conceito adotado de Sustentabilidade está determinado. É este o
conceito de sustentabilidade? As coisas se coadunam? As perguntas que fazemos
têm resposta? Existe transparência? Accountability?
Por que?
Se perguntarmos para cada um dos
leitores o que é sustentabilidade, cada um terá um conceito diferente. Sustentabilidade
passou de substantivo a adjetivo. Portanto é peça de propaganda. Até a torcida
brasileira é sustentável.
Então, novamente pergunto: Por que?
Sustentabilidade é racionalizar ao máximo o uso dos insumos naturais?
Sustentabilidade é reduzir ao mínimo os impactos ambientais? A sustentabilidade
é o lucro? Sem ele a empresa não sobrevive. Mas qual é o objeto da ação? É o
lucro ou é o Homem? É os dois? E como eles se relacionam?
As respostas estão nas bibliotecas.
Todo o pensamento ocidental desde a antiguidade está nas bibliotecas. Aqui
poderíamos citar, só para começarmos a refletir sobre contabilidade, a ética de
Aristóteles. Só um dos textos, (Ética
a Nicômacos), a ética do bom senso, fundada nos juízos morais do homem bom e
virtuoso.
Qual é o bem supremo do homem e o
fim a que tendem todas as coisas? Isso está demonstrado demonstrações contábeis?
No relatório da administração? Você me pergunta eu repondo, não sei! O que
realmente nós queremos? As respostas que procuramos nas peças contábeis nós
obtemos? O importante é continuarmos a perguntar....
(1) Luiz Panhoca, Doutor em Controladoria e Contabilidade
pela FEA/USP, Mestre em Economia pela PUC SP, Pós-Doutorando em Geografia pela
UFPR e Professor do PPG Mestrado em Contabilidade da UFPR. Coordenador da
Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares (ITCP). Membro da American
Accounting Association (AAA) e da Society for Ecological Restoration
International (SER). [publicará toda 2ª. feira, quinzenalmente]. Contato: panhoca.luiz@gmail.com
Caros Lauro e Panhoca, parabéns pelo blog e pelo artigo!
ResponderExcluirAbs,
Marco Milani