Inovação em Contabilidade
Lauro Brito de Almeida, Dr. EAC|FEA|USP
Doutor
em Controladoria e Contabilidade pela EAC|FEA|USP, Pós-Doutorando em
Administração pelo PPAD PUC PR e Professor do PPG em Contabilidade da UFPR
[Mestrado e Doutorado]. Interesses de pesquisas em Análise Gerencial de Custos,
Economia de Empresas e Educação, Ensino e Pesquisa. Experiência e atuação
profissional em Análise Gerencial de Custos, Orçamento Empresarial, Elaboração
de Plano de Negócios para Pequenas e Médias Empresas, Avaliação de Empresas, Analise
Econômica e Financeira e Elaboração de Estudos e Pareceres. Contato: gbrito@uol.com.br
Todo final e início de ano somos
brindados pela mídia com previsões, cenários etc – especialmente economia e
política – sobre o ano seguinte. Neste início de ano um jornal econômico, listou
as tendências tecnológicas no segmento de serviços e tecnologia, para ilustrar
a dinâmica das inovações.
As dez inovações – dominadas pela
“praticidade e jeito de ficção” - listadas foram: (i) TV´s 4K; (ii) Smartphones
baratos; (iii) Aplicativos de mensagens; (iv) M2M (“machine-to-machine”); (v)
Segurança virtual; (vi) Impressão 3D; (vii) Fibras ópticas; (viii) Computadores
de vestir; (ix) Drones e robôs e (x) Softwares analíticos.
O texto chama a atenção,
principalmente, por: (i) não definir inovação no contexto dos produtos listados
e (ii) não considerar a heterogeneidade dos serviços e suas características, em
especial a intangibilidade. Como tantos outros, fazem uso do termo inovação sem
a devida preocupação do seu entendimento e concepção, esquecendo de sua
constante evolução.
Atualmente inovação é concebida mais
como um processo de resolução de problemas, interativo e envolvendo os
relacionamentos entre as empresas com diferentes atores. Além disso, requer uma
aprendizagem diversificada de um processo que envolve um intercâmbio
decodificado e conhecimento tácito. Por fim, esse processo gera um sistema
inovador ou um cluster de inovação.
A contabilidade, mesmo quando vinculada
a questões normativas, o processo de inovação é alinhado a esse entendimento.
Cabe lembrar que o processo de inovação na contabilidade não é privilégio da
academia e tampouco de centros de pesquisa. É resultante de um processo que requer
troca de conhecimentos e plena interação entre organizações e demais atores.
As inovações em contabilidade não tem
merecido destaque.
Em geral, os produtos decorrentes de processos de inovação
com amplo destaque e cobertura na mídia – e mesmo na academia – são específicos
para processos industriais ou os de alguma forma inseridos no universo da
tecnologia da informação e comunicação.
Os estudos de inovação, em especial no
contexto organizacional, demandam diferentes interpretações do termo. Uma
inovação é percebida quando é inventada, adotada ou não, e, principalmente, se
após utilizada pela primeira vez, é um sucesso quando implementada por outros.
A contabilidade enquanto produto é
intangível e somente torna-se “visível” se seus produtos – tradicionais ou
inovações – são intermediados pela tecnologia da informação e comunicação. Enquanto
inovação não vemos a difusão das ideias, conceitos etc, mas sim, dos
“sistemas”, dos softwares.
Sem o propósito de ser exaustivo, cabe
lembrar algumas inovações marcantes em contabilidade. Uma delas, na década de
30: conceito de custeio variável [ou como gostam alguns: custeio direto]. Essa
inovação desencadeou outras [processo incremental], e talvez, a mais popular,
no contexto da Análise das Relações Custo-Volume-Lucro, o ponto de equilíbrio.
Nos anos 60, dois economistas – Edwards e Bell – publicaram a obra “The Theory and Measurement of Business
Income”, inovando no processo de mensuração e análise do desempenho
corporativo.
No Brasil, na década de 70, inovamos com
a correção monetária de balanço. Sendo a inovação um processo dinâmico, nos
anos 90, a correção monetária integral. Também não podemos esquecer, nos anos 90
e seguintes, o desenvolvimento do Gecon – Gestão Econômica, pelo Professor
Armando Catelli na FEA/USP.
Mais recentemente, investigações além-mar
caracterizam como inovações ABC/ABM, TQM e BSC. A contabilidade – seja como
ramo do conhecimento e/ou prática profissional -, apesar de sempre estar em um
constante processo de inovação, no Brasil, ao que parece, não tem sido objeto
de pesquisa nesse contexto.
A evolução da contabilidade –
originando diversos artefatos -, enquanto inovação assume muitas formas. Essas
inovações emergem em mercados que oferecem incentivos para a introdução de
novos produtos, quer sua adoção e uso institucionalizadas normativamente ou de
outra maneira.
No entanto, no Brasil, há poucos
estudos e quase nada sabemos de concreto sobre os processos de criação de
soluções inovadoras em contabilidade. Por isso, esse momento é uma rica
oportunidade para propor a construção de um projeto colaborativo entre academia,
órgãos de classe e empresas com o propósito de empreender pesquisas, melhor
compreender esse processo e divulgar as inovações.