Lauro Brito de Almeida, Dr. EAC|FEA|USP(1)
O governo, alvo de
críticas e diante do desempenho – tido
por muitos, como aquém do esperado - da nossa economia tem estado ativo em
suas ações. Desde o ano passado, sob o manto de contribuir para o aumento da
competitividade das empresas, o “prato principal”, servido com todas as galas,
honrarias com direito a prata da casa, tem sido a “desoneração da folha de pagamento”.
Cerca de cinquenta setores foram contemplados, desde então.
Por outro lado, de olho
na inflação, o governo tem tomado outras medidas. Nos jornais, algumas notícias
tentam criar um impasse entre governo e autoridade monetária [Banco Central]. Passado o episódio do tomate, a mídia se ocupa
de outros eventos. Não cabe discutir, neste espaço, a correção metodológica das
ações das autoridades monetárias e as probabilidades de eficácia.
Desde janeiro, estamos em plena temporada de reajustes das
tarifas de ônibus urbanos. Na
cidade de São Paulo, os reajustes foram postergados, no entanto, em plena negociação no momento. Em Porto Alegre, depois das manifestações populares e diante da irredutibilidade do governo municipal em rever as tarifas, a decisão ficou por conta da justiça, ou seja, foi reduzida e continua desagradando os usuários de transportes coletivos urbanos. A tarifa de ônibus urbano, além de seu peso nos índices de inflação, diminui ainda mais a pouca renda disponível para consumo de uma parcela significativa da população brasileira.
cidade de São Paulo, os reajustes foram postergados, no entanto, em plena negociação no momento. Em Porto Alegre, depois das manifestações populares e diante da irredutibilidade do governo municipal em rever as tarifas, a decisão ficou por conta da justiça, ou seja, foi reduzida e continua desagradando os usuários de transportes coletivos urbanos. A tarifa de ônibus urbano, além de seu peso nos índices de inflação, diminui ainda mais a pouca renda disponível para consumo de uma parcela significativa da população brasileira.
Relacionado ao tema de controle da inflação, texto publicado
no Valor [18/04/2013, p.A5], "Fazendaquer zerar PIS-Cofins de empresa de ônibus urbano", a jornalista
Leandra Peres relata que, no contexto de administrá-la "[...] o Ministério
da Fazenda vai propor à presidente Dilma Rousseff retirar o PIS-Cofins de 3,65%
que integra a planilha de custos das empresas e é integralmente repassado às
empresas".
Não levando em contas os possíveis equívocos conceituais relativos
às metodologias [planilha de custos]
utilizadas pelos diversos entes públicos e entidades para formação de preço da
tarifa de ônibus urbano, o texto expõe, por parte das entidades e atores
envolvidos, contradições que, ao
menos, deixam este escriba com
dúvidas quanto à eficácia da desoneração proposta, obviamente, na redução da
tarifa e, portanto, sua efetiva contribuição na administração da inflação.
O texto informa que "Segundo dados da Associação
Nacional das Empresas de Transportes Urbanos - NTU, a desoneração integral do
PIS-Cofins pode reduzir o valor final das tarifas em 3,65%", e caso
aconteça, então, tarifa menor, impacto menor nos índices de preços.
No entanto, a conclusão da entidade NTU da
possibilidade da redução da tarifa em 3,65% decorrente da desoneração
PIS-Cofins é contraditória com a afirmação do Presidente-Executivo da entidade, Sr Otávio Cunha, de que "A
desoneração chega numa hora excelente. Vai permitir que o setor possa cumprir a
meta de investir R$ bilhões até 2016 em renovação da frota e sistemas
inteligentes de transporte."
Pelo que entendo, a proposta de desoneração de tributos –
PIS-Cofins, INSS patronal - das empresas de ônibus urbano pelo Governo é com o
propósito de administrar a inflação, considerando o seu impacto nos índices de
preço. Diferentemente da desoneração de outros setores, os quais podiam a seu
livre arbítrio, recompor suas margens ou repassá-las aos consumidores, neste
caso, o objetivo é claro: retirar da
formação do preço das tarifas estes encargos.
As empresas de ônibus urbanos, assim como as de qualquer
outra atividade precisam investir. Os investimentos podem ser para repor veículos
obsoletos, substituir por outros mais eficientes [recentes medidas antipoluição tem sido indutoras de renovação de frotas]
ou aumentar a capacidade produtiva. Ora, neste contexto, se o propósito da desoneração
desses tributos é evitar que sejam repassados ao preço da tarifa de ônibus
urbano, então -salvo engano - não há
como contar com o seu equivalente monetário como fonte financiamento! Estou equivocado?
O equivalente monetário aos 3,65%
de PIS-Cofins somente seria fonte de financiamento se incorporado no preço da
tarifa e não repassado ao governo. Entendo que as tarifas de ônibus urbanos
praticadas pelas empresas – com ou sem desoneração tributária -, dado um volume
de atividade, devem ser minimante suficientes para, além de suportarem os
custos operacionais, despesas administrativas, remunerarem o capital próprio e
de terceiros, também permitam gerar fluxo de caixa de investimentos e fluxo de
caixa de financiamentos viáveis.
Então, caros leitores, alguém
precisa explicar como a desoneração dos tributos PIS-Cofins irá financiar
investimento de R$ 8 bilhões.
Então, fica a questão para vocês:
[..] se a medida é não repassar ao
preço da tarifa de ônibus urbano PIS-Cofins, incorrendo o governo em custo
fiscal, conforme o texto, próximo a R$ 1 bilhão [no jargão dos economistas, renúncia], e pelo que entendo, dinheiro
que não entrará nos cofres públicos, como é possível ser fonte de
financiamento!
Caros leitores, vocês tem a
palavra.
O jogo midiático do governo tem como principal intuito, certamente, a reeleição. Portanto, o jogo de palavras que sempre incluem inflação, desoneração e outros "ãos", são imediatistas e sem base sustentável no longo prazo.
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