segunda-feira, 1 de abril de 2013

Práticas de Contabilidade Gerencial: tal como no velho oeste?

Lauro Brito de Almeida, Dr. EAC|FEA|USP(1)
No Brasil a prática profissional de contabilidade societária  [e outras associadas ]só pode ser exercida pelos graduados em contabilidade e com registro no órgão de classe do seu estado. Por outro lado, em contabilidade gerencial, no entanto, a matiz dos praticantes é diversificada. 
Encontramos graduados em contabilidade, economia, administração, engenharia de produção, só para citar os mais comuns. Basta ver alguns anúncios de empregos. 
Os textos de contabilidade gerencial, contabilidade de custos, gestão estratégica de custos, na introdução costumam diferenciar os campos de atuação: contabilidade societária vs contabilidade gerencial. 

Enquanto a contabilidade societária é altamente normatizada [p.e. vide IFRS, CPC´s], o mesmo nãoocorre com a contabilidade gerencial. Essa falta de normas para as práticas de contabilidade gerencial foi o mote para o texto de Gary Cokins com o provocativo título “CowboyAccountants – The Lawless Frontier”. 
No referido texto Gary Cookins ironiza a prática [comportamento dos praticantes, no caso contadores] e, provocativamente, assume que o ambiente é tal qual o do velho oeste americano [os nascidos na década de 50 e 60 com certeza lembram dos filmes de bang bang].
Apesar do seu lado provocativo, com uma fina ironia, é oportuno para reflexão sobre a necessidade ou não de normatizar as práticas de contabilidade gerencial. O texto, ao comentar a diversidade de práticas – custeio por absorção, custeio baseado em atividades [tido por alguns como prática inovadora], custeio variável, só para ficar com os mais conhecidos.

No entanto, o texto, apesar de seu título jocoso, traz uma armadilha – sutilmente subliminar - com forte viés corporativista, pois, ao questionar a necessidade de normatização, induz a todos, como no velho oeste, nomear um “xerife”.

Nomeando um “xerife”, tenho receios – que me provocam calafrios – de que imponham barreiras de entradas, especificando que só podem ser praticantes aqueles que fizeram “tal curso”.

É lamentável que em alguns congressos e revistas patrocinadas pela “classe”, é vetada a participação de pesquisadores com outras formações acadêmicas. Mais lamentável, diria, triste, o verificado em concursos públicos para professor, nos quais a barreira de entrada não é o conhecimento, competência, pesquisa e publicações na área de conhecimento, e sim, se é graduado ou não na área de conhecimento. Tal comportamento, infelizmente, além de representar o que há de pior, não contribui para o desenvolvimento de qualquer área, ainda mais a de contabilidade.
Portanto, reafirmo o meu temor, pois se houver um “xerife”, como subliminarmente proposto por Gary Cookins, temo que o ramo do conhecimento e prática profissional Contabilidade Gerencial, inicie seu período de trevas.

Sou partidário de que qualquer ramo do conhecimento cresce quando é beneficiado pela participação de atores com formação diversificada. E a academia, em particular, deve abrigar todos aqueles – independente de sua formação acadêmica – que escolheram como campo de estudo, pesquisa e prática profissional a Contabilidade Gerencial.

Mais uma vez, fica a proposta: vamos refletir sobre o assunto e mais, AGIR.

(1) Lauro Brito de Almeida, Doutor em Controladoria e Contabilidade pela FEA/USP, Pós-Doutorando em Administração pelo PPAD PUC PR e Professor do PPG Mestrado em Contabilidade da UFPR. Interesses de pesquisas em Análise Gerencial de Custos, Economia de Empresas e Educação, Ensino e Pesquisa. Experiência e atuação profissional em Análise Gerencial de Custos, Orçamento Empresarial, Elaboração de Plano de Negócios para Pequenas e Médias Empresas, Analise Econômica e Financeira e Elaboração de Estudos e Pareceres. Contato: gbrito@uol.com.br

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