segunda-feira, 22 de abril de 2013

Mestres no Brasil: um primeiro olhar


Lauro Brito de Almeida, Dr. EAC|FEA|USP(1)
O Centro de Gestão e Estudos Estratéticos [CGEE], organização social supervisionada pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, lançou [22/04/2013] um abrangente estudo sobre a formação de mestres no Brasil. A proposta do estudo é fazer uma radiografia. A edição, no formato digital, pode ser acessada no endereço [http://www.cgee.org.br/publicacoes/mestres_e_doutores.php]. Este post é um primeiro comentário sobre o assunto e utilizo como pano de fundo partes do texto publicado no Valor Econômico, Caderno Eu & Carreira [22/04/2013, p.D3] sob o título de “Aumenta o númerode mestres no país”. A figura “Radiografia” [nome equivocado para o conteúdo da tabela] detalha a quantidade de titulados, por
Áreas de Conhecimento, nos anos de 1996 e 2009 e para igual período, sob o título de “Quem contrata” os tipos de instituições empregadoras dos titulados “mestre”.
Em termos globais, a quantidade de titulados mestre passou de 10.389 em 1996 para 38.800 em 2009. Uma variação de 273,5% no período de 13 e uma taxa equivalente de 10,7% ao ano.
O texto é meramente informativo, sem qualquer análise e/ou opinião do autor, e se resume em expor o ponto de vista do entrevistado sobre os achados da pesquisa, ora publicada. Dispondo de outros dados, não detalhados na Figura, o entrevistado, opina que “[...] os dados são animadores, mas devem ser vistos com cautela. Isso porque parte expressiva da expansão se deve à contribuição dos cursos vinculados às instituições privadas, que passaram de 13,3% para 22,4% do total de títulos durante os 13 anos contemplados no estudo. O problema (...) é que essas universidades se concentram essencialmente em áreas do conhecimento que exigem investimentos menores em infraestrutura laboratorial como ciências sociais aplicadas, letras e artes – o que não é exatamente o que o mercado quer no momento”.
Em outra análise equivocada, carregada com as cores indesejáveis de juízo de valor - salvo se fundamentada em evidências empíricas de que não são esses mestres que o mercado quer - dá o tom de como os cursos nas áreas de ciências sociais aplicadas, letras e artes e humanidades no Brasil são avaliados, justamente por aqueles que deveriam ter um entendimento mais robusto sobre o tema.
Os titulados em Linguística, Letras e Artes são mal aproveitados pelo “mercado”. Diga, os manuais de instruções são eficazes? Você consegue entendê-los? Então, porque não utilizar os titulados nessas áreas para melhorar esse produto!
Na argumentação é utilizado o termo mercado. Cabe aqui indagar que “mercado” é esse. Os cursos das áreas de conhecimento citadas – em tom, subliminarmente depreciativo – são necessários na estrutura de ensino. Nem todos querem e podem se dedicarem as outras áreas, como saúde, exatas etc. Parece que aos olhos e interpretação de muitos o mercado é somente relacionado com as empresas, em especial aquelas manufatureiras. 
A afirmação de que “Estamos formando mestres em grande quantidade, mas a proporção entre os cursos ainda não é a mais adequada para a nossa atual realidade”, ainda que pretensamente no contexto da reportagem [aí está falha do jornalista, que deveria indagar as fontes de evidencias que suportam tal afirmação], contribuiria muito ao leitor se devidamente suportado com evidências empíricas. Devemos, indagar: qual é esta realidade?
O leitor fica igualmente prejudicado, pela falta de evidências empíricas que deem o devido suporte para a afirmação de que “[...] a indústria nacional tem uma grande demanda por mão de obra altamente qualificada em exatas, capaz de desenvolver projetos de infraestrutura, melhorar a produção de bens e serviços e aumentar a competitividade do país”. Faltou citar, quais são as empresas que mantém centros de pesquisa ou evidenciem, mesmo que de maneira não estruturada desenvolvem P&D. Pelo que temos notícias, somente a Petrobrás mantém um centro de pesquisa – CENPES. A Embratel, antes de privatizada tinha ... e agora?
Destaquei essas passagens do texto para manifestar minha preocupação com a fala de visão sistêmica com a educação. O país precisa de graduados, mestres e doutores em todas as áreas do conhecimento. É um erro enfatizar somente a área de exatas, e mais, desqualificar as demais.
E mais, pergunto: o “mercado” está preparado para receber os mestres e doutores em exatas e investir em P&D – longo prazo e retornos incertos?

Caros leitores, vocês tem a palavra.

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