sábado, 5 de abril de 2014

Inovação em Contabilidade

Lauro Brito de Almeida, Dr. EAC|FEA|USP
Doutor em Controladoria e Contabilidade pela EAC|FEA|USP, Pós-Doutorando em Administração pelo PPAD PUC PR e Professor do PPG em Contabilidade da UFPR [Mestrado e Doutorado]. Interesses de pesquisas em Análise Gerencial de Custos, Economia de Empresas e Educação, Ensino e Pesquisa. Experiência e atuação profissional em Análise Gerencial de Custos, Orçamento Empresarial, Elaboração de Plano de Negócios para Pequenas e Médias Empresas, Avaliação de Empresas, Analise Econômica e Financeira e Elaboração de Estudos e Pareceres. Contato: gbrito@uol.com.br
Todo final e início de ano somos brindados pela mídia com previsões, cenários etc – especialmente economia e política – sobre o ano seguinte. Neste início de ano um jornal econômico, listou as tendências tecnológicas no segmento de serviços e tecnologia, para ilustrar a dinâmica das inovações.
As dez inovações – dominadas pela “praticidade e jeito de ficção” -  listadas foram: (i) TV´s 4K; (ii) Smartphones baratos; (iii) Aplicativos de mensagens; (iv) M2M (“machine-to-machine”); (v) Segurança virtual; (vi) Impressão 3D; (vii) Fibras ópticas; (viii) Computadores de vestir; (ix) Drones e robôs e (x) Softwares analíticos.
O texto chama a atenção, principalmente, por: (i) não definir inovação no contexto dos produtos listados e (ii) não considerar a heterogeneidade dos serviços e suas características, em especial a intangibilidade. Como tantos outros, fazem uso do termo inovação sem a devida preocupação do seu entendimento e concepção, esquecendo de sua constante evolução.
Atualmente inovação é concebida mais como um processo de resolução de problemas, interativo e envolvendo os relacionamentos entre as empresas com diferentes atores. Além disso, requer uma aprendizagem diversificada de um processo que envolve um intercâmbio decodificado e conhecimento tácito. Por fim, esse processo gera um sistema inovador ou um cluster de inovação.
A contabilidade, mesmo quando vinculada a questões normativas, o processo de inovação é alinhado a esse entendimento. Cabe lembrar que o processo de inovação na contabilidade não é privilégio da academia e tampouco de centros de pesquisa. É resultante de um processo que requer troca de conhecimentos e plena interação entre organizações e demais atores.
As inovações em contabilidade não tem merecido destaque. 
Em geral, os produtos decorrentes de processos de inovação com amplo destaque e cobertura na mídia – e mesmo na academia – são específicos para processos industriais ou os de alguma forma inseridos no universo da tecnologia da informação e comunicação.
Os estudos de inovação, em especial no contexto organizacional, demandam diferentes interpretações do termo. Uma inovação é percebida quando é inventada, adotada ou não, e, principalmente, se após utilizada pela primeira vez, é um sucesso quando implementada por outros.
A contabilidade enquanto produto é intangível e somente torna-se “visível” se seus produtos – tradicionais ou inovações – são intermediados pela tecnologia da informação e comunicação. Enquanto inovação não vemos a difusão das ideias, conceitos etc, mas sim, dos “sistemas”, dos softwares.
Sem o propósito de ser exaustivo, cabe lembrar algumas inovações marcantes em contabilidade. Uma delas, na década de 30: conceito de custeio variável [ou como gostam alguns: custeio direto]. Essa inovação desencadeou outras [processo incremental], e talvez, a mais popular, no contexto da Análise das Relações Custo-Volume-Lucro, o ponto de equilíbrio. Nos anos 60, dois economistas – Edwards e Bell – publicaram a obra “The Theory and Measurement of Business Income”, inovando no processo de mensuração e análise do desempenho corporativo.
No Brasil, na década de 70, inovamos com a correção monetária de balanço. Sendo a inovação um processo dinâmico, nos anos 90, a correção monetária integral. Também não podemos esquecer, nos anos 90 e seguintes, o desenvolvimento do Gecon – Gestão Econômica, pelo Professor Armando Catelli na FEA/USP.
Mais recentemente, investigações além-mar caracterizam como inovações ABC/ABM, TQM e BSC. A contabilidade – seja como ramo do conhecimento e/ou prática profissional -, apesar de sempre estar em um constante processo de inovação, no Brasil, ao que parece, não tem sido objeto de pesquisa nesse contexto.
A evolução da contabilidade – originando diversos artefatos -, enquanto inovação assume muitas formas. Essas inovações emergem em mercados que oferecem incentivos para a introdução de novos produtos, quer sua adoção e uso institucionalizadas normativamente ou de outra maneira.

No entanto, no Brasil, há poucos estudos e quase nada sabemos de concreto sobre os processos de criação de soluções inovadoras em contabilidade. Por isso, esse momento é uma rica oportunidade para propor a construção de um projeto colaborativo entre academia, órgãos de classe e empresas com o propósito de empreender pesquisas, melhor compreender esse processo e divulgar as inovações.