sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Contabilidade Ambiental [Parte 02_05]


Luiz Panhoca(*)
Este é o segundo artigo de uma série que discute as relações entre a contabilidade e o ambiente. Alguns a classificam de Contabilidade Ambiental.
No primeiro artigo tratamos da dificuldade de se definir e mais ainda contabilizar a sustentabilidade. Neste segundo artigo perguntamos: As empresas explicitam o passivo ambiental como uma informação aos investidores?
As informações contábeis são a representação em números (valores) das ações de uma entidade. A semiótica, a representação, o que acontece no mundo empírico é mostrado pela contabilidade, pelo Sistema Relacional Numérico. Isso é nosso preceito básico: informação. A régua para medirmos a dimensão dos acontecimentos é a moeda, no nosso caso: Reais [R$].

Conseguimos mostrar danos e riscos ambientais por uma representação numérica? Esta discussão é recente. Quando pela primeira vez ouvimos falar a palavra sustentabilidade?
Quando eu estava na escola, nosso lema não era “nossa escola é sustentável!”. O lema era “nossa escola segue a filosofia de Piaget”. Depois foi “nosso cliente é o rei”. Sustentabilidade é coisa recente. E virou lema para tudo!... justas reivindicações, declarações românticas, temas de propaganda, objeto de comercialização, moda e por fim consumo de luxo.
Antes de pensarmos em mensurar a sustentabilidade precisamos compreender como se dá a gestão da cadeia de suprimentos ou Supply Chain Management - SCM (para ficar mais chique). A gestão dessa cadeia tem sido um componente importante da estratégia competitiva para melhorar a organização, a produtividade e a lucratividade. A literatura relacionada a este tópico é vasta. Nos últimos anos, medição de desempenho organizacional e métricas têm recebido muita atenção dos pesquisadores e profissionais. O papel destas medidas e métricas para o sucesso de uma organização afetam o planejamento estratégico, tático e operacional e o controle. A sustentabilidade tem sido considerada e avaliada nessas SCM?
Medição de desempenho e métricas na sustentabilidade tem um papel importante e crescente na definição de objetivos, avaliação de desempenho e para determinar os futuros cursos de ações. Medição de desempenho e métricas relativas à sustentabilidade ainda não recebem adequada atenção de pesquisadores ou profissionais. Nós desenvolvemos uma estrutura para promover uma melhor compreensão da importância da medição, de desempenho e de métricas no que afeta o financeiro, o econômico, o lucro. A dimensão ambiental entra nesta contabilização? Ou só no planejamento de marketing? A contabilidade ambiental está preparada para dar respostas a estes planejamentos?
Temos muito a estudar e separar a ladainha da crença pela compilação dos fatos científicos, a estrada está ainda por ser desbastada. A recomendação é quando você escutar a palavra sustentabilidade fique atento! Veja se não é um canto da sereia, coloque cera em seus ouvidos, estude e reflita para compreender a realidade.
Contudo conforme Jeanne Marie Gagnebin[1], se Ulisses não tivesse vencido as Sereias, isto é, se tivesse cedido a seus encantos e, portanto, morrido, nunca poderia ter delas falado [...] não haveria nem Odisséia, nem narração poética, nós não saberíamos nem da existência das Sereias nem da beleza do seu canto. Vencedor das Sereias, Ulisses é herdeiro (e nós também) simultaneamente da beleza do canto e da perda do seu poder. Ainda mais, as empresas explicitam o passivo ambiental como uma informação relevante aos investidores?
(*) Luiz Panhoca, Doutor em Controladoria e Contabilidade pela FEA/USP, Mestre em Economia pela PUC SP, Pós-Doutorando em Geografia pela UFPR e Professor do PPG Mestrado em Contabilidade da UFPR. Coordenador da Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares (ITCP). Membro da American Accounting Association (AAA) e da Society for Ecological Restoration International (SER). [publicará toda 2ª. feira, quinzenalmente].  Contato: panhoca.luiz@gmail.com



[1] Professora de filosofia na PUC e na Unicamp, autora de História e narração em Walter Benjamin (Perspectiva) e Sete aulas sobre linguagem, memória e história (Imago), entre outro

Nenhum comentário:

Postar um comentário