Luiz Panhoca(*)
Este é o segundo
artigo de uma série que discute as relações entre a contabilidade e o ambiente.
Alguns a classificam de Contabilidade Ambiental.

As informações contábeis são a
representação em números (valores) das ações de uma entidade. A semiótica, a representação,
o que acontece no mundo empírico é mostrado pela contabilidade, pelo Sistema
Relacional Numérico. Isso é nosso preceito básico: informação. A régua para
medirmos a dimensão dos acontecimentos é a moeda, no nosso caso:
Reais [R$].
Conseguimos mostrar danos e riscos ambientais por uma representação numérica? Esta discussão é recente. Quando pela primeira vez ouvimos falar a palavra sustentabilidade?
Quando eu estava na escola, nosso lema
não era “nossa escola é sustentável!”. O lema era “nossa escola segue a
filosofia de Piaget”. Depois foi “nosso cliente é o rei”. Sustentabilidade é
coisa recente. E virou lema para tudo!... justas reivindicações, declarações
românticas, temas de propaganda, objeto de comercialização, moda e por fim
consumo de luxo.
Antes de pensarmos em mensurar a
sustentabilidade precisamos compreender como se dá a gestão da cadeia de
suprimentos ou Supply Chain Management - SCM
(para ficar mais chique). A gestão dessa cadeia tem sido um componente
importante da estratégia competitiva para melhorar a organização, a
produtividade e a lucratividade. A literatura relacionada a este tópico é
vasta. Nos últimos anos, medição de desempenho organizacional e métricas têm
recebido muita atenção dos pesquisadores e profissionais. O papel destas
medidas e métricas para o sucesso de uma organização afetam o planejamento
estratégico, tático e operacional e o controle. A sustentabilidade tem sido
considerada e avaliada nessas SCM?
Medição de desempenho e métricas na
sustentabilidade tem um papel importante e crescente na definição de objetivos,
avaliação de desempenho e para determinar os futuros cursos de ações. Medição
de desempenho e métricas relativas à sustentabilidade ainda não recebem
adequada atenção de pesquisadores ou profissionais. Nós desenvolvemos uma
estrutura para promover uma melhor compreensão da importância da medição, de
desempenho e de métricas no que afeta o financeiro, o econômico, o lucro. A
dimensão ambiental entra nesta contabilização? Ou só no planejamento de marketing?
A contabilidade ambiental está preparada para dar respostas a estes
planejamentos?
Temos muito a estudar e separar a
ladainha da crença pela compilação dos fatos científicos, a estrada está ainda
por ser desbastada. A recomendação é quando você escutar a palavra
sustentabilidade fique atento! Veja se não é um canto da sereia, coloque cera
em seus ouvidos, estude e reflita para compreender a realidade.
Contudo conforme Jeanne Marie Gagnebin[1], se Ulisses não tivesse
vencido as Sereias, isto é, se tivesse cedido a seus encantos e, portanto,
morrido, nunca poderia ter delas falado [...] não haveria nem Odisséia, nem
narração poética, nós não saberíamos nem da existência das Sereias nem da
beleza do seu canto. Vencedor das Sereias, Ulisses é herdeiro (e nós também)
simultaneamente da beleza do canto e da perda do seu poder. Ainda mais, as
empresas explicitam o passivo ambiental como uma informação relevante aos
investidores?
(*) Luiz Panhoca, Doutor em Controladoria e Contabilidade pela FEA/USP, Mestre em Economia
pela PUC SP, Pós-Doutorando em Geografia pela UFPR e Professor do PPG Mestrado
em Contabilidade da UFPR. Coordenador da Incubadora Tecnológica de Cooperativas
Populares (ITCP). Membro da American
Accounting Association (AAA) e da Society
for Ecological Restoration International (SER). [publicará toda 2ª. feira,
quinzenalmente]. Contato: panhoca.luiz@gmail.com
[1]
Professora de filosofia
na PUC e na Unicamp, autora de História e narração em Walter Benjamin
(Perspectiva) e Sete aulas sobre linguagem, memória e história (Imago), entre
outro
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